Primeiro dia de mesa de discussão deu ênfase aos elementos compositivos em dança. Foto: Secretaria Municipal de Cultura de Três Lagoas.
Hoje pela manhã,
em uma sala do alojamento Eldorado, foi realizada a primeira mesa de discussões
do Festival Dança Três.
Pautada em análise
de experimentos cênicos apresentados na noite de ontem, a conversa seguiu
mediada por Luiza Rosa, com a participação de integrantes do Grupo Simbiose
(Três Lagoas); Expressão de Rua (Campo Grande); e de professores da academia
Jimmy Eliot (Três Lagoas).
Foram levantadas
questões sobre os elementos que compõem uma dança. Para chegar a tal
entendimento, foi lançada a pergunta: qual é a materialidade da dança?
Se a materialidade
da pintura é a tela em contato com tintas, carvão, e outros materiais que
deixam rastros; a materialidade da arquitetura são estruturas de concreto,
tijolos, metais; a materialidade da dança é o corpo que gera ambientes em um
palco, praça, ruas, casas, telas de televisão, cinema.
E o corpo, para
gerar um ambiente na dança, tem em sua natureza elementos como: tempo; espaço;
tônus; e fluxos (LABAN, 1978).
Com a consciência
desses elementos é possível gerar novos instrumentos para seguir criando
experimentos de dança que alcancem cada vez mais ou estejam mais em acordo com
as vontades, desejos de expressão de seus criadores, e que, um dia, podem
chegar a se tornar obras, performances, trabalhos, instalações.
Ouviu-se alguns
depoimentos hoje das pessoas que se apresentaram ontem como: “Quisemos
trabalhar o encontro do jazz com o balé”, “Nossa dança trata da evolução
histórica do jazz e funk”, “Fazemos uma dança de louvor”. Pergunta-se: como
chegar a esses objetivos com as vantagens e limitações que a dança oferece?
O Grupo Ministério
de Dança Jovens de Fogo, com a coreografia “Belíssimo esposo”, fez uma dança baseada
em gestos de louvor. Sugiro que estudem métodos de conhecimento do corpo que
dança, como de Rudolf Laban e Klauss Vianna, para dar continuidade a suas
criações. Não acredito que a técnica do balé seja eficiente para o objetivo que
querem alcançar.
Quando a questão
de criação está envolta em uma técnica, a dança só emerge na relação com
essa técnica e não parece ser essa a questão de criação do Grupo Ministério de
Dança Jovens de Fogo. Talvez um método que abranja de uma maneira mais ampla, o
conhecimento sobre o funcionamento do corpo, que amplie a percepção sobre
detalhes e gestos que pode compor uma dança, mais do que regras disciplinares
de como fazer cada movimento, ajude a chegar a uma sincronia maior e novas
possibilidades para expressar o louvor.
Surpreendeu-me a
coreografia “Do funk ao funk”, do Grupo Simbiose, pela maneira como lidou com
tema e técnica criados em outros contextos (Estados Unidos, décadas atrás),
diferentes do sul-mato-grossense, e fez disso algo verdadeiro e adequado ao
universo cotidiano em que vivem. Interessante
o início da coreografia, em que um casal está parado enquanto uma música toca.
O contraste entre pausa dos corpos e movimento da música enriqueceu a
composição da coreografia. A iluminação também estava de acordo com a
movimentação dos dançarinos: mudava o ritmo na medida em que os dançarinos
aumentavam ou diminuíam o tônus e a pulsação do movimento.
Destaco, também, a
relação entre coreografia e iluminação da coreografia “Spiritual Warface”, do
Grupo LEDC. Fazer a luz acompanhar os movimentos dos corpos dos integrantes do
grupo fez a composição enriquecer. Além disso, usar da comunicação por meio de
libras para criar movimentos de dança, na relação com a dança de rua, deu certo
e pode ser estudada ainda mais.
A coreografia que
apresentou problemas maiores na noite foi “Ballet/jazz”, da Academia de Dança
Meninas. A questão trabalhada ao longo da coreografia foi a “hibridação” da
técnica do balé com o jazz. Néstor García Canclini entende por hibridação: “processos
socioculturais nos quais estruturas ou práticas, que existiam de forma
separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas.
(CANCLINI, 2008, p. XVIII e XIX).
Ao longo da
coreografia o que predominou foram exercícios da técnica do balé. Apenas um ou
outro movimento no chão que remetem à dança jazz, além da música. Trabalhar a
hibridização entre técnicas diferentes é uma ação que exige muito tempo de
assimilação e treinamento. Sugiro que, enquanto exercício cênico, o grupo crie
objetivos menos abrangentes que a hibridação de duas técnicas. Parece-me mais
apropriado apresentar um exercício de técnicas de sapatilhas de ponta, com músicas
da cultura pop ou atuais, em vez de almejar hibridar universos tão amplos
quanto técnicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário