Uma das
questões que predominou durante a conversa da manhã de sábado, 2 de novembro, foi sobre como as danças podem ser
diferentes e ter diversas motivações.
Tem gente que se
ocupa mais em burilar uma técnica de dança e levar ao palco etapas do processo
de assimilação dessa técnica; tem gente
cuja dança é gerada na relação com um objeto cênico; tem gente cujo interesse é
experimentar questões espaciais, a disposição dos bailarinos no espaço e os
desenhos que podem ser gerados, sem preocupação com uma técnica específica.
Palavras-conceitos
como “belo”, “harmonia”, “movimento”, “técnica”, “método”, “experimento cênico”
foram levantados. Todas essas palavras precisam ser usadas com cuidado, para
não se tornarem apenas verdades de cada um. O que é técnica para um, pode não
ser técnica para o outro. O que é dança para um, às vezes não é considerado
dança para o outro. Ampliar o entendimento do que é e do que pode ser
“movimento”, por exemplo, pode garantir mais elementos para criar, fazer a
própria dança ultrapassar as regras que a regem, para se tornar um exercício de
como algo pode chegar a ser mais coerente com aquilo que se quer expressar.
Além disso, discutir sobre esses conceitos amplia também a percepção de outras
danças.
E a quem mesmo
interessa classificar o que é ou não é dança?
A pergunta é um
convite à reflexão e meu palpite de resposta é o de que ao criador não
interessa a classificação. Porque o processo de criação de qualquer obra
artística passeia entre anseios particulares, técnicas e elementos expressivos,
expressões artísticas diferentes, dúvidas!! – e
isso não significa que a dança não tenha sua singularidade em relação às outras
artes. Interessa a classificação quando se
vai vender o próprio trabalho, aos ambientes de poder (públicos e privados). Quando se trata de poder público, essa questão passa a ser interesse de
todos, por isso é preciso certo empenho em criar nomeações mais eficazes e
menos excludentes.
Analisamos a
coreografia “Resquícios de Loie Fuller”, da Isa Yasmin Cia. de Dança. Desde o
nome, a coreografia remete a um evento da história da dança cênica. “Serpentine
dance”, de Loie Fuller (1862-1928), foi registrada em vídeo, em 1886, pelos
irmãos Lumiére, os criadores do cinematógrafo (Wikidança, 2013). Fica visível que o que liga,
media a dança árabe da Isa Yasmin cia. de Dança com Loie Fuller, são os
desenhos no ar gerados pelos leques (objeto das danças árabes) com seus
tecidos. A apresentação dessa dança ritual foi enriquecida pelo uso do espaço.
"Resquícios de Loie Fuller", da Isa Yasmin Cia. de Dança (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
Mas e quem não
conhece o vídeo “Serpentine dance”, consegue “entender” a coreografia? –
perguntou uma das participantes da conversa.
Acredito que quem
não conhece esse evento da história da dança, se atém ao efeito dos tecidos e aos desenhos no espaço na
coreografia. Quem conhece, tem a oportunidade de gerar maior complexidade de
conexões ao longo da fruição.
Analisamos também
“Diálogos possíveis”, dançada pelo Grupo Ballet Isadora Duncan. A coreografia
apresentava diversos passos de dança moderna bem executados. No entanto,
ficou-me a questão do que liga um passo no outro. Como fazer para que a
coreografia não seja apenas uma exibição técnica? Senti que a imagem ideal da
execução técnica predominava sobre o lento processo de assimilação dessa
técnica pelas alunas, que implica em negociações, aceitações e descartes.
"Diálogos possíveis", do Ballet Isadora Duncan (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
Sugiro a leitura do artigo “Método e técnica: faces complementares do
aprendizado em dança”, escrito por Helena Katz, publicado no livro “Angel
Vianna: sistema, método ou técnica” (2009), organizado por Suzana Saldanha,
para ampliar o entendimento do que é ou pode ser uma técnica de dança. Está
disponível aqui.
"Pequenas flores", da academia Mayara Martins (Aquidauana/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
As academias Bricio
Dance e Mayara Martins apresentaram exercícios cênicos que tratavam do
acompanhamento da música pelos movimentos das crianças e, também, de desenhos
no espaço. Foram bem executados e sugiro estudo mais aprofundado de
musicalidade e de espacialidade. “Descaminhos”, do grupo de dança do Colégio
Dom Bosco, de Campo Grande, apresentou coreografia com movimentos em conjunto.
"Descaminhos", do Colégio Dom Bosco (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
Em relação ao
grupo CDN Crew, que apresentou “Urban move”, sugiro que assista mais
coreografias de seus pares, para que amplie repertório de referências e
enriqueça a composição.
Luiza Rosa
luiza.almeida.rosa@gmail.com
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