Esse é o primeiro texto da
última noite, queridos participantes da Mostra Aberta e Profissional do
Festival Dança Três.
Peço desculpas pelo intervalo de tempo entre uma publicação e outra, mas é por um bom motivo. Eu realmente passo dias digerindo o que assisti, lendo livros, consultando pesquisadores e artistas, para conseguir fazer o que realmente acredito: uma escrita “para” e “com” a dança de vocês. Porque acho que meu papel é o de iluminar possibilidades e leituras, mais do que julgar qualquer escolha ou estágio de experimentação ou estudo.
Bora lá!
Peço desculpas pelo intervalo de tempo entre uma publicação e outra, mas é por um bom motivo. Eu realmente passo dias digerindo o que assisti, lendo livros, consultando pesquisadores e artistas, para conseguir fazer o que realmente acredito: uma escrita “para” e “com” a dança de vocês. Porque acho que meu papel é o de iluminar possibilidades e leituras, mais do que julgar qualquer escolha ou estágio de experimentação ou estudo.
Bora lá!
Uma-duas mulheres,
uma terceira, quarta, os olhos fixos através do espelho. Em mim, em ti, ela
ajeita o vestido de outra mulher, dela própria. Mim é ti, os pronomes se
confundem. Falta contornos e tudo é penetrável. Mas há tensão e ela trafega
entre os pólos da lascívia ao amor, do desejo à repressão. Medo, culpa, dor, prazer.
“Mudança”, o novo
espetáculo da Cia. do Mato, dirigido por Chico Neller, abriu a última noite do
Festival Dança Três e foi, segundo o diretor, inspirado no poema de
mesmo nome, escrito por Clarice Lsipector. É a mais recente grande criação de
Neller depois de “Amor líquido” (2008) e “Cultura bovina?” (2007). “Mudança” deixa
claro os ritornelos do artista, entorno do feminino, da individuação, da
identidade, do prazer. Reincidências atualizadas em um modo de encenar
cuidadoso e não menos intenso, no que tange ao tratamento dos sentimentos e das
emoções. Um universo profundo esse que Neller e seus dançarinos exploram, cartografam em gestos e deslocamentos (um presente para aqueles que não têm estômago para adentrar, sozinhos, nesse território desconhecido, e para os que já o penetraram). Essas questões remetem às da dança expressionista alemã, que chegou ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, quando seguidores de Mary Wigman (1886-1973) e Kurt Joss (1901-1979) - precursores dessa vertente da dança cênica, junto com Rudolf Laban – nomes que foram levantados ao longo das rodas de conversa - vieram fugidos para o país. Dentre eles, Rolf Gelewski (1930-1988), professor da Escola de Dança, da Universidade Federal da Bahia, na época de sua fundação (década de 1970).
É dessa escola que descende a companhia alemã Thanztheater Wuppertal, dirigida pela famosa Pina Bausch (1940-2009).
Mas a ética e estética (escolhas que implicam em um jeito de dar a ver as coisas que se percebe) de Chico Neller, além de remeter a essa linhagem, está impregnada de questões do Brasil Central, da violência da opressão, da beleza que acompanha o grotesco, da luz que acompanha a escuridão.
Artistas com quem acho que a Cia. do Mato pode dialogar, para ampliar repertório de encenação e trocar questões em comum, é a paulistana Eliana de Santana que, em 2013, criou “Das faces do corpo”, a partir do ensaio fotográfico “Antropologia da face gloriosa”, de Arthur Omar; Sandro Borelli que dirige a Cia. Carne Agonizante com quem criou, dentre outros espetáculos, “Metamorfose” (2002), baseado em conto de Kafka, e “Produto perecível laico” (2011), inspirado no poema “A morte”, de Cruz e Souza; e Vanessa Macedo, que dirige a Cia. Fragmento, com quem criou, “Nuvens insetos” (2012) e “Versos da última estação” (2007).
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