O Projeto Corphomen na Dança, apresentou “Encomum”, um experimento cênico que tratou da relação entre três homens e um banco vermelho. Os movimentos, que estavam visivelmente vinculados a técnicas de dança moderna, mantinham relação de ritmo e pulsação direta com a música, ou seja, a cada pausa que a música fazia, havia pausa na movimentação, assim como quando a música crescia de intensidade, os movimentos também cresciam, seja com saltos, ou com tônus mais forte.
“Encomum” apresenta questões semelhantes a “Diálogos possíveis”, apresentada pelo Grupo Ballet Isadora Duncan, na noite de sexta-feira, 1 de novembro. A técnica e os passos aprendidos em sala de aula pareciam preceder aquilo que se queria expressar e não se modificaram em contato com a composição coreográfica. Como se trata de técnica com grau de complexidade alto, demanda aperfeiçoamento em sua assimilação por parte dos dançarinos e, também, que sejam lançadas estratégias, ao longo da composição coreográfica, de aproximação dos passos com o contexto atual da coreografia. Aliar essas duas instâncias, que devem ser percebidas como sendo faces de um mesmo corpo e não como dualidades ou dicotomias, propicia uma fruição na qual o que chama a atenção em cena é o ato comunicativo daquela dança, em vez de o quanto os dançarinos estão, ou não, executando bem uma técnica.
Acredito que espetáculos da Quasar Cia. de Dança possam ser boas referências de pesquisa para o Projeto Corphomen. Há, inclusive, uma coreografia chamada “Mulheres”, criada por Henrique Rodovalho, em 2000, que trata da relação de três mulheres com um sofá vermelho. Deem uma olhada no trecho abaixo, disponível no youtube.
Trecho
de “Mulheres” – Quasar Cia. de Dança
O que primeiro poderia sugerir ao Grupo de Balé Clássico Jimmy Eliot, é a reflexão entorno do nome do grupo. Acredito que a especificação “Balé Clássico” no nome, compromete a possibilidade de experimentação de expressividades que extrapolem essa técnica já codificada e estruturada dentro de limites bem definidos, como é o caso da coreografia “Chuva”, que transita entre imagens de corpo do balé, da dança jazz e da experimentação cênica.
Outra sugestão é a de investir na investigação de qualidades de movimento do tema proposto para a coreografia, que implica em tônus (contração e relaxamento de força muscular), tempo (pausas, movimentos contínuos, lentos, rápidos) e uso do espaço. Se o tema trata de chuva e água, por exemplo, investigar as qualidades que compõe líquidos, que caracterizam liquidez das coisas podem ajudar a compor a coreografia. Acredito que intercâmbios com academias de balé de outras cidades do estado, como Estúdio de Dança Beatriz de Almeida, de Campo Grande, Escola de Balé Gisela Dória, e outras academias que atuam há mais tempo, como as de Dourados, pode fortalecer parâmetros para criações e para compartilhar estratégias de sobrevivência (dificuldades, conquistas, etc.). Além disso, sugiro que assistam vídeos de coreografias e espetáculos da Cia. do Mato (MS), Ginga Cia. de Dança (MS) e Ballet Stagium (SP). Podem ser boas referências de pesquisa de criação para o Grupo.
“Desiderata”
– Cia. do Mato
“Choros”
– Ballet Stagium
O Grupo Expressão de Rua, apresentou “Dialetos”, que usou de estratégias como canons, e Grupo Seishun apresentou “Yochore”, com desenhos cênicos interessantes, por conta da alternância entre níveis (baixo e alto) e pela sincronia em que estavam se movimentando em grupo.
O Grupo Bailah, apresentou “Baile dos mortos”, cujo núcleo dramatúrgico se dá na contraposição entre um primeiro momento suave, lírico, e um segundo momento forte. A quebra entre um e outro se dá tanto pela mudança brusca de música quanto pela qualidade de movimento dos dançarinos. Poderiam ter ido mais a fundo na articulação com a referência ao filme “A noite dos mortos vivos” (1968), dirigido por George Romero, que trata, pela primeira vez no cinema Holiwoodiano, dos zumbis, os chamados mortos-vivos. Há a tentativa de inserir esses personagens, mas eles logo incorporam os passos de dança de salão, deixando de lado o estado de corpo de um possível zumbi. Além de poder trabalhar melhor a articulação desses personagens, dessa referência fílmica, sugiro o aprimoramento na assimilação das técnicas de dança de salão.
Pessoal,
ResponderExcluirDesculpem, eu me equivoquei nesse último parágrafo do texto. A coreografia "Baile dos mortos" não apresentou um momento lírico e depois um forte; essa foi a configuração da coreografia gravada em vídeo enviado à curadoria do Festival. Na última noite, apresentaram a coreografia apenas com a parte forte. Confusão minha! Um abraço!