sexta-feira, 1 de novembro de 2013

::: Mesa de Discussões ::: Dia 1 :::


Primeiro dia de mesa de discussão deu ênfase aos elementos compositivos em dança. Foto: Secretaria Municipal de Cultura de Três Lagoas.

   Hoje pela manhã, em uma sala do alojamento Eldorado, foi realizada a primeira mesa de discussões do Festival Dança Três.
  Pautada em análise de experimentos cênicos apresentados na noite de ontem, a conversa seguiu mediada por Luiza Rosa, com a participação de integrantes do Grupo Simbiose (Três Lagoas); Expressão de Rua (Campo Grande); e de professores da academia Jimmy Eliot (Três Lagoas).
   Foram levantadas questões sobre os elementos que compõem uma dança. Para chegar a tal entendimento, foi lançada a pergunta: qual é a materialidade da dança?
Se a materialidade da pintura é a tela em contato com tintas, carvão, e outros materiais que deixam rastros; a materialidade da arquitetura são estruturas de concreto, tijolos, metais; a materialidade da dança é o corpo que gera ambientes em um palco, praça, ruas, casas, telas de televisão, cinema.
  E o corpo, para gerar um ambiente na dança, tem em sua natureza elementos como: tempo; espaço; tônus; e fluxos (LABAN, 1978).
  Com a consciência desses elementos é possível gerar novos instrumentos para seguir criando experimentos de dança que alcancem cada vez mais ou estejam mais em acordo com as vontades, desejos de expressão de seus criadores, e que, um dia, podem chegar a se tornar obras, performances, trabalhos, instalações.
  Ouviu-se alguns depoimentos hoje das pessoas que se apresentaram ontem como: “Quisemos trabalhar o encontro do jazz com o balé”, “Nossa dança trata da evolução histórica do jazz e funk”, “Fazemos uma dança de louvor”. Pergunta-se: como chegar a esses objetivos com as vantagens e limitações que a dança oferece?
  O Grupo Ministério de Dança Jovens de Fogo, com a coreografia “Belíssimo esposo”, fez uma dança baseada em gestos de louvor. Sugiro que estudem métodos de conhecimento do corpo que dança, como de Rudolf Laban e Klauss Vianna, para dar continuidade a suas criações. Não acredito que a técnica do balé seja eficiente para o objetivo que querem alcançar.
  Quando a questão de criação está envolta em uma técnica, a dança só emerge na relação com essa técnica e não parece ser essa a questão de criação do Grupo Ministério de Dança Jovens de Fogo. Talvez um método que abranja de uma maneira mais ampla, o conhecimento sobre o funcionamento do corpo, que amplie a percepção sobre detalhes e gestos que pode compor uma dança, mais do que regras disciplinares de como fazer cada movimento, ajude a chegar a uma sincronia maior e novas possibilidades para expressar o louvor.
  Surpreendeu-me a coreografia “Do funk ao funk”, do Grupo Simbiose, pela maneira como lidou com tema e técnica criados em outros contextos (Estados Unidos, décadas atrás), diferentes do sul-mato-grossense, e fez disso algo verdadeiro e adequado ao universo cotidiano em que vivem.  Interessante o início da coreografia, em que um casal está parado enquanto uma música toca. O contraste entre pausa dos corpos e movimento da música enriqueceu a composição da coreografia. A iluminação também estava de acordo com a movimentação dos dançarinos: mudava o ritmo na medida em que os dançarinos aumentavam ou diminuíam o tônus e a pulsação do movimento.
  Destaco, também, a relação entre coreografia e iluminação da coreografia “Spiritual Warface”, do Grupo LEDC. Fazer a luz acompanhar os movimentos dos corpos dos integrantes do grupo fez a composição enriquecer. Além disso, usar da comunicação por meio de libras para criar movimentos de dança, na relação com a dança de rua, deu certo e pode ser estudada ainda mais.
  A coreografia que apresentou problemas maiores na noite foi “Ballet/jazz”, da Academia de Dança Meninas. A questão trabalhada ao longo da coreografia foi a “hibridação” da técnica do balé com o jazz. Néstor García Canclini entende por hibridação: “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. (CANCLINI, 2008, p. XVIII e XIX).
  Ao longo da coreografia o que predominou foram exercícios da técnica do balé. Apenas um ou outro movimento no chão que remetem à dança jazz, além da música. Trabalhar a hibridização entre técnicas diferentes é uma ação que exige muito tempo de assimilação e treinamento. Sugiro que, enquanto exercício cênico, o grupo crie objetivos menos abrangentes que a hibridação de duas técnicas. Parece-me mais apropriado apresentar um exercício de técnicas de sapatilhas de ponta, com músicas da cultura pop ou atuais, em vez de almejar hibridar universos tão amplos quanto técnicas.

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