segunda-feira, 4 de novembro de 2013

::: Mesa de discussões ::: Dia 2 :::


Uma das questões que predominou durante a conversa da manhã de sábado, 2 de novembro, foi sobre como as danças podem ser diferentes e ter diversas motivações.

Tem gente que se ocupa mais em burilar uma técnica de dança e levar ao palco etapas do processo de assimilação dessa técnica;  tem gente cuja dança é gerada na relação com um objeto cênico; tem gente cujo interesse é experimentar questões espaciais, a disposição dos bailarinos no espaço e os desenhos que podem ser gerados, sem preocupação com uma técnica específica.

Palavras-conceitos como “belo”, “harmonia”, “movimento”, “técnica”, “método”, “experimento cênico” foram levantados. Todas essas palavras precisam ser usadas com cuidado, para não se tornarem apenas verdades de cada um. O que é técnica para um, pode não ser técnica para o outro. O que é dança para um, às vezes não é considerado dança para o outro. Ampliar o entendimento do que é e do que pode ser “movimento”, por exemplo, pode garantir mais elementos para criar, fazer a própria dança ultrapassar as regras que a regem, para se tornar um exercício de como algo pode chegar a ser mais coerente com aquilo que se quer expressar. Além disso, discutir sobre esses conceitos amplia também a percepção de outras danças.

E a quem mesmo interessa classificar o que é ou não é dança?

A pergunta é um convite à reflexão e meu palpite de resposta é o de que ao criador não interessa a classificação. Porque o processo de criação de qualquer obra artística passeia entre anseios particulares, técnicas e elementos expressivos, expressões artísticas diferentes, dúvidas!! – e isso não significa que a dança não tenha sua singularidade em relação às outras artes. Interessa a classificação quando se vai vender o próprio trabalho, aos ambientes de poder (públicos e privados). Quando se trata de poder público, essa questão passa a ser interesse de todos, por isso é preciso certo empenho em criar nomeações mais eficazes e menos excludentes.


Analisamos a coreografia “Resquícios de Loie Fuller”, da Isa Yasmin Cia. de Dança. Desde o nome, a coreografia remete a um evento da história da dança cênica. “Serpentine dance”, de Loie Fuller (1862-1928), foi registrada em vídeo, em 1886, pelos irmãos Lumiére, os criadores do cinematógrafo (Wikidança, 2013). Fica visível que o que liga, media a dança árabe da Isa Yasmin cia. de Dança com Loie Fuller, são os desenhos no ar gerados pelos leques (objeto das danças árabes) com seus tecidos. A apresentação dessa dança ritual foi enriquecida pelo uso do espaço.


 "Resquícios de Loie Fuller", da Isa Yasmin Cia. de Dança (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

Mas e quem não conhece o vídeo “Serpentine dance”, consegue “entender” a coreografia? – perguntou uma das participantes da conversa.

Acredito que quem não conhece esse evento da história da dança, se atém ao efeito dos tecidos e aos desenhos no espaço na coreografia. Quem conhece, tem a oportunidade de gerar maior complexidade de conexões ao longo da fruição.

Analisamos também “Diálogos possíveis”, dançada pelo Grupo Ballet Isadora Duncan. A coreografia apresentava diversos passos de dança moderna bem executados. No entanto, ficou-me a questão do que liga um passo no outro. Como fazer para que a coreografia não seja apenas uma exibição técnica? Senti que a imagem ideal da execução técnica predominava sobre o lento processo de assimilação dessa técnica pelas alunas, que implica em negociações, aceitações e descartes. 

"Diálogos possíveis", do Ballet Isadora Duncan (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

Sugiro a leitura do artigo “Método e técnica: faces complementares do aprendizado em dança”, escrito por Helena Katz, publicado no livro “Angel Vianna: sistema, método ou técnica” (2009), organizado por Suzana Saldanha, para ampliar o entendimento do que é ou pode ser uma técnica de dança. Está disponível aqui.

"Pequenas flores", da academia Mayara Martins (Aquidauana/MS). Foto: Aurélio Vinícius.

As academias Bricio Dance e Mayara Martins apresentaram exercícios cênicos que tratavam do acompanhamento da música pelos movimentos das crianças e, também, de desenhos no espaço. Foram bem executados e sugiro estudo mais aprofundado de musicalidade e de espacialidade. “Descaminhos”, do grupo de dança do Colégio Dom Bosco, de Campo Grande, apresentou coreografia com movimentos em conjunto.

"Descaminhos", do Colégio Dom Bosco (Campo Grande/MS). Foto: Aurélio Vinícius.
 

Em relação ao grupo CDN Crew, que apresentou “Urban move”, sugiro que assista mais coreografias de seus pares, para que amplie repertório de referências e enriqueça a composição. 


Luiza Rosa
luiza.almeida.rosa@gmail.com

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